O Pica-pau-do-parnaíba é uma ave endêmica do cerrado brasileiro. Os registros históricos indicam que a espécie foi descoberta em Uruçuí, município de Piauí, às margens do Rio Parnaíba, de onde provém seu nome popular, no ano de 1926. A partir desta data ficou desaparecido por mais de 80 anos, até ser redescoberto em 2006 por Advaldo Prado, no município de Goiatins, Estado do Tocantins.

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O Pica-pau-do-parnaíba é considerado uma ave especialista, ou seja, está adaptado a um tipo de habitat e alimentação específica. Sua ocorrência no cerrado está quase sempre associada a formações florestais (cerradão, matas de galeria/ciliar e floresta estacional) com presença de um bambu conhecido popularmente como taboca. São nessas tabocas que o pica-pau obtém sua alimentação, que é composta basicamente por formigas, em especial, três espécies específicas. A estratégia de obtenção do alimento varia e é bem ilustrada neste vídeo.

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De todos os Estados com registros para a espécie, o Goiás é o que apresenta os habitats com pior qualidade ambiental. Neste Estado o desmatamento suprimiu muitos habitats do Pica-pau-do-parnaíba, isolando populações. Estas tendem a serem extintas localmente, visto que os poucos remanescentes de cerrado florestal continuam sendo suprimidos. No Maranhão a demanda por madeira para produção de carvão tem levado a ocorrência de desmatamento de grandes áreas com registro para a espécie, agravando ainda mais o status de conservação do Pica-pau-do-parnaíba.

Os melhores habitats para a espécie estão no Tocantins, pois o Estado é o que apresenta os maiores índices de vegetação remanescente. Entretanto, o Tocantins é um dos três Estados que mais receberam alertas de desmatamento entre 2002 a 2009, paralelo ao aumento da área plantada para produção de grãos e criação de gado. 
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O futuro do Pica-pau-do-parnaíba e demais espécies que habitam o cerrado brasileiro é “incerto”. Até o momento não há registros para a espécie em unidades de conservação de proteção integral. A rápida transformação da cobertura e uso do solo ao longo de sua área de ocorrência ocasionará ainda mais a fragmentação das populações, isolando indivíduos e podendo em curto prazo provocar extinções locais.

Para conservação do Pica-pau-do-parnaíba no cerrado brasileiro é imprescindível que o desmatamento seja zero. Além disso, deve-se estudar locais para criação de unidades de conservação de proteção integral visando a preservação de uma grande população desta magnífica ave do cerrado brasileiro.



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Sobre o autor

Dianes G. Marcelino é consultor, engenheiro ambiental e mestre em ecologia de ecótonos pela Universidade Federal do Tocantins. Tem experiência em licenciamento ambiental, geoprocessamento, ecologia, recuperação de áreas degradadas e gestão de resíduos sólidos.