Para a alegria e felicidade dos amantes da natureza, nas últimas semanas temos recebido diversos anúncios de espécies sendo descobertas ou redescobertas na natureza. Muitas delas já surgem (ou ressurgem) à luz da ciência com o status de ameaçada de extinção, levantando a seguinte indagação: divulgar ou não divulgar a localização dessas espécies?

Goniurosaurus kwangsiensis, China, new species, gecko discovered in China, gecko discovered, gecko, nova espécie de lagartixa, lagarto, nova espécie, répteis, animal, natureza, blog natureza e conservação, extinção, tráfico de animais, animais em extinçãoEste tema foi muito bem abordado em uma publicação recente do jornal The Guardian. Segundo o jornal, revistas científicas começaram a omitir as localizações geográficas de espécies, uma vez que caçadores tem se utilizado destas informações para coletar e traficar espécies de lagartos, sapos e cobras recém (re)descobertas pela ciência. Normalmente, os artigos científicos trazem além da localização geográfica, uma série de dados ecológicos e biológicos de dada espécie, facilitando a ação de traficantes de animais.

Como exemplo, um artigo científico da revista Zootaxa, sobre a descoberta de duas novas espécies de lagartixas do gênero Goniurosaurus no sul da Índia (Foto acima), não apresenta a localização das espécies. “Devido à popularidade desde gênero como animais de estimação e os recorrentes casos de descrições científicas que apontam colecionadores comerciais como responsáveis por levar espécies da herpetofauna a beira da extinção, não divulgamos nesta publicação as localidades de coleta dessas espécies de distribuição restrita,” diz os autores.

Dendrobates galactonotus, Brazil, frog, sapos, nova espécie de sapo, new species, nova espécie, animal, natureza, blog natureza e conservação, extinção, tráfico de animais, animais em extinção, anfíbios, pererecas, rãsPara Mark Auliya, biólogo e herpetólogo do Centro de Pesquisa Ambiental Helmholtz, a publicação de informações contendo a localização geográfica representa uma ameaça para a sobrevivência de algumas espécies, visto que estas informações são usadas por traficantes de animais silvestres. “Identificar a localização de espécies raras, protegidas, em perigo ou endêmica de habitats específicos, pode criar uma demanda de mercado, especialmente se essas espécies são carismáticas, coloridas ou apresentam uma morfologia única dentre as demais espécies,” enfatizou Auliya para o jornal The Guardian.

Segundo a publicação do jornal The Guardian, são inúmeros casos em que após a divulgação de uma redescoberta ou a descrição de uma nova espécie, o animal, pouco tempo depois, passa ser encontrado sendo comercializado em outras regiões. Dentre os exemplos está uma espécie de anfíbio (Dendrobates galactonotus - foto acima), endêmica da região amazônica brasileira e que foi descoberta em 2013. Três meses depois espécimes do animal podia ser encontrado na Alemanha, sendo vendido entre 350 a 700 euros.   

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