O Brasil é
reconhecido pela riqueza de sua flora. São quase 50 mil espécies já
identificadas e o número não para de crescer. Duas novas plantas da família
Melastomataceae (a mesma das quaresmeiras e manacás-da-serra), foram
descobertas recentemente no Espírito Santo: Bertolonia duasbocaensis e
Bertolonia macrocalyx. Mesmo recém-descritas, ambas estão criticamente
ameaçadas de extinção, se considerados os critérios da União Internacional para
Conservação da Natureza (IUCN). Apesar de serem espécies com necessidades
específicas, o pesquisador responsável conta que algumas unidades foram
encontradas fora de áreas de conservação.

Renato
Goldenberg, pesquisador responsável pela descoberta e professor da Universidade
Federal do Paraná (UFPR), afirma que as espécies foram encontradas em 2009, mas
só agora puderam ser descritas. “A partir de então, tivemos que comparar essas
duas plantas com as outras espécies já identificadas do gênero Bertolonia,
cerca de 15, para termos certeza de que eram novas. Tivemos que acessar
materiais de outros herbários, inclusive de fora do Brasil”. A publicação do
artigo com as informações confirmadas sobre as plantas aconteceu em novembro de
2016, no PeerJ, publicação online especializada em ciências biológicas e
médicas.
Tanto a
Bertolonia duasbocaensis (cujo nome remete à Reserva de Duas Bocas) quanto a
Bertolonia macrocalyx, são tão desconhecidas que não têm nomes populares.
“Essas plantas são pequenas, com folhas de formato arredondado e um fruto
triangular”, descreve Goldenberg. O professor ressalta que elas precisam de
condições específicas para sobreviver, como locais muito úmidos em barrancos e
fundos de grotões – cavidades formadas em relevos desnivelados –, sempre sob
cobertura florestal densa.
“Se a
floresta não estiver bem preservada, essas são as primeiras plantas que
desaparecem”, destaca o pesquisador. “Alguns exemplares foram encontrados na
Reserva Ecológica de Duas Bocas, em Cariacica, que é uma área protegida. Porém,
outras estavam em regiões alteradas nos arredores da reserva, e isso é
incrível”, exclama. Goldenberg comenta que a Mata Atlântica no Espírito Santo
já foi severamente agredida e acredita que outras plantas tenham desaparecido
antes de serem descobertas na região.
Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, destaca a
importância de projetos como esse. “Conhecer as diferentes espécies da flora do
nosso país é o primeiro passo para conservá-las. Esse tipo de descoberta nos
mostra o quanto a nossa biodiversidade é rica e o quão importante é investir no
meio científico”, conclui.
Fonte: Fundação Grupo Boticário
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