Tubarões e raias que estão sob ameaça de extinção têm sido
consumidos amplamente no mercado brasileiro. Comercializados pelo nome de
cação, mais de 16 espécies de tubarões e raias foram encontradas em pontos de
venda do Sul do país, região que possui uma das maiores indústrias pesqueiras
do Brasil. Dentre elas, destaca-se a raia-viola (Squatina occulta), considerada
criticamente ameaçada e o tubarão-martelo-entalhado (Sphyrna lewini),
classificado como vulnerável.

Para a identificação das espécies foi utilizada uma ferramenta
denominada “código de barras de DNA” que permite, a partir das informações
contidas no material genético individual, afirmar de qual espécie se trata.
Essa estratégia é necessária porque alguns pescadores, para fugir da
fiscalização, jogam fora as partes que identificam a espécies, como cabeça e barbatanas,
vendendo os ”peixes” já em filés. “Com essa tecnologia em mãos é possível, com
apenas uma pequena amostra do animal, ou mesmo um fragmento do filé de pescado
comercializado, identificar rapidamente de qual espécie se trata”, comenta. A
ferramenta também permite controlar a pesca de cada espécie individualmente.
Em estado vulnerável de ameaça, o tubarão-martelo-entalhado é
considerado o mais pescado no Brasil. Na pesquisa ele ocupa o primeiro lugar,
aparecendo em 23% das amostras. A segunda espécie mais presente é o
tubarão-azul (Prionace glauca), com 13% de presença.
De acordo com a diretora executiva da Fundação Grupo Boticário,
Malu Nunes, a iniciativa “faz com que os olhares se voltem para uma questão que
pouco tem sido discutida, mas que poderá ter grande impacto no equilíbrio do
ambiente marinho: a redução drástica das populações de tubarões e raias”,
afirma. Além disso, segundo a diretora, o projeto oferece ao consumidor
informações relevantes sobre o que ele está comprando.
Predadores sensíveis
Os tubarões são animais que estão no topo da cadeia alimentar dos
oceanos. Por serem predadores por excelência, contribuem para o equilíbrio das
populações das espécies que são suas presas. São animais de grande porte desde
o nascimento, o que reduziu, ao longo da evolução, sua predação. Isso significa
dizer que a pesca predatória, que retira milhares de toneladas ao ano de
tubarões, tem enorme impacto ambiental. “Retirá-los do ecossistema marinho
causará grande desequilíbrio nos oceanos, gerando, por exemplo, a
superpopulação de espécies comumente predadas que, por sua vez, pode impactar a
vida das comunidades ribeirinhas e o comércio pesqueiro, por exemplo”, destaca
o pesquisador. “Não há como ter certeza do que acontece com a retirada de um predador
de topo de cadeia, mas, com certeza, as consequências são catastróficas tanto
em termos de biodiversidade como econômicas, e é melhor não pagar para ver.”
Já as raias correm risco ainda maior, pois têm sido facilmente
capturadas pela pesca artesanal com arrastão de praia e industrial. O declínio
populacional está associado à elevada mortandade das fêmeas prenhes, facilmente
capturadas nestes locais. Além disso, a pesca indiscriminada pode afetar o
tamanho das fêmeas e, consequentemente, o número de filhotes a cada gestação.
“Isso tem interferido no tamanho e quanto menor elas forem, menos filhotes
conseguem gestar de cada vez, afetando diretamente o número de indivíduos das
populações”, conclui Valiati.
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