O periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus) já esteve com seus
dias contados. Com apenas 250 indivíduos na natureza em 2003, o nível de ameaça
à espécie era gravíssimo, com risco de desaparecer da Serra de Baturité (CE),
um dos três pontos de ocorrência da espécie. A serra, que fica a cerca de 100
km de Fortaleza, é bastante sensível, pois se trata de uma região de Mata
Atlântica, ambiente natural mais ameaçado do país, em pleno sertão cearense. O
local é um importante reservatório de água e abastece cerca de dois milhões de
pessoas, englobando a região metropolitana de Fortaleza.

Por conta deste trabalho, neste ano, nasceram mais de 180 filhotes
de periquitos-cara-suja na natureza. Ao todo, mais de 440 filhotes nasceram nas
caixas-ninho nos últimos sete anos.
O resultado é bastante significativo, pois, atualmente, estima-se
que menos de mil indivíduos vivam na natureza, número muito baixo e preocupante.
A espécie é considerada criticamente ameaçada de extinção, sendo o psicitacídeo
(grupo de aves das araras, periquitos e papagaios) mais vulnerável do país.
O periquito-cara-suja possui grande importância na floresta e para
os moradores da região, pois é responsável pela disseminação de sementes
maiores, que outras espécies não conseguem quebrar. “Com o desaparecimento
dele, essas árvores como o camunzé ou a guabiraba poderiam se prejudicar,
empobrecendo a floresta, o que, por consequência, afeta diretamente o bem-estar
das comunidades que vivem no entorno da região e dependem da floresta”, explica
Alberto Campos, um dos fundadores da Aquasis.
O coordenador do projeto e pesquisador responsável pela pesquisa
Fábio Nunes afirma que a espécie, por ser bastante rara e endêmica (exclusiva)
dessa região, chama muito a atenção dos observadores de aves que viajam
milhares de quilômetros para visualizar o periquito. Dessa forma, eles aquecem
a economia local por meio do turismo ecológico, pois consomem nos restaurantes,
lojas e hotéis da cidade. “A observação de aves é o turismo que mais cresce na
Serra de Baturité e tem injetado renda significativa na economia local”,
conclui.
Ações prioritárias para conservação do periquito-cara-suja
Campos destaca que a espécie não tem um Plano de Ação Nacional
(PAN) próprio. “Ela consta no PAN das aves da Caatinga, junto com outras 11
espécies. Não tem como definir estratégias de conservação para aves tão
diferentes”, explica. O PAN é uma política pública que tem por objetivo
identificar e orientar as ações prioritárias para combater as ameaças que põe
em risco as espécies e ambientes naturais brasileiros. De acordo com a
Convenção da Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é signatário, o país
deve elaborar e executar Planos de Ação para todas as espécies oficialmente
ameaçadas até 2020.

Segundo eles, no caso do periquito-cara-suja, as principais ameaças são
a falta de árvores de grande porte que seriam utilizadas para fazer os ninhos e
o tráfico de animais silvestres. Para resolver essas questões, eles contam,
foram criadas duas frentes de trabalho: uma de conscientização da população
para a importância da espécie e outra de implantação de caixas-ninho.
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Fonte: Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza
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