Novo marco
cravado neste início de 2017 confirma a relevante contribuição da agropecuária
para a economia nacional. Depois de dois anos de retração, o Índice de
Atividade Econômica do primeiro trimestre anunciado esta semana pelo Banco
Central apontou elevação de 1,12% em relação ao período anterior. A principal
responsável por esse saldo é a nova safra de grãos, que deverá ser a maior da
história, em torno de 230 milhões de toneladas segundo a última estimativa do
IBGE.

Entretanto,
os dados econômicos não consideram os serviços ambientais que viabilizam a
produção agropecuária. Sem contar com a ampliação de áreas no Cerrado e
Amazônia, melhores tecnologias têm propiciado aumento de produtividade nas
áreas historicamente cultivadas no Centro-Sul do País. Em decorrência disso,
porém, as atividades agroeconômicas têm pressionado ano a ano os poucos
remanescentes naturais, em especial na Mata Atlântica, visto que se tratava de
áreas marginais, mas que hoje são passíveis de produção.
Foi esse
processo que ocorreu na Área de Proteção Ambiental da Escarpa Devoniana, criada
em 1992 pelo Estado do Paraná, para conservação dos últimos refúgios dos
“Campos Gerais” que se intercalavam às florestas com araucárias e outras
espécies arbóreas e rasteiras (de campos limpos e pedregosos), muitas ameaçadas
de extinção, e molduravam o imenso degrau de relevo entre os planaltos de
Curitiba e Ponta Grossa (escarpa). A declividade e os solos rasos impediam sua
exploração, porém a tecnologia, especialmente do plantio direto, que
possibilita o plantio em solos rasos, potencializou a quase extinção dos campos,
incluindo as áreas úmidas drenadas.
A divulgação
de dados por satélites indicando o Paraná como Estado que mais suprimiu a Mata
Atlântica nos últimos 30 anos também está nesse contexto, tanto que neste ano o
Ministério Público Estadual capitaneou ação contra desmatamentos da floresta
com araucárias, tendo flagrado inédito enterro de árvores, visto que o objetivo
era apenas abrir novas áreas para cultivos.
Portanto, a drástica perda de áreas naturais na Escarpa Devoniana, que
suscitou Projeto de Lei Estadual para sua redução, é idêntica a de outras
regiões do Paraná e Estados vizinhos, onde os remanescentes naturais
gradualmente foram convertidos para agrossilvicultura. Com a não contabilização
da perda de serviços ambientais, os lucros são centralizados a uma parte da
sociedade, enquanto a menor vazão dos mananciais, redução de polinizadores,
perda de espécies, contaminação de solos e aquíferos e desregulação climática
ficam para todos, perdendo a imensa maioria da população. No médio prazo,
ainda, os recursos naturais tendem a ser exauridos e novas supersafras serão
inviabilizadas.
Fonte: Emerson Antônio de Oliveira/Grupo Boticário de Proteção a Natureza
0 Comentários