A descoberta
de uma nova espécie de sapo na Serra do Brigadeiro (MG) demonstra que o rock’n
roll também pode ser fonte inspiradora para a ciência. O inédito Brachycephalus
darkside, apresentado este mês ao mundo científico, traz em seu nome uma
referência ao álbum lançado nos anos 1970 pela banda britânica de rock Pink
Floyd, que ainda costuma embalar o descanso dos pesquisadores responsáveis pela
descoberta.
O nome se
deve à presença de um tecido conjuntivo preto que cobre todos os músculos
dorsais do sapo, o que confere a ele um diferencial em relação a outros
Brachycephalus, um gênero endêmico da Floresta Atlântica brasileira. Se não
fosse por essa descoberta que levou a outras, os pesquisadores continuariam
considerando que a nova espécie, há algum tempo depositada no Museu de Zoologia
João Moojen da UFV (MZUFV), se tratava do sapinho pingo-de-ouro, o Brachycephalus
ephippium, já conhecido pela ciência. Espécies desse gênero vivem nas regiões
Sul e Sudeste e chamam a atenção por sua coloração aposemática (de alerta)
amarelo-laranja brilhante e alto grau de miniaturização. Esses sapos são
considerados um dos menores vertebrados do mundo.
A
identificação do Brachycephalus darkside sp. nov foi resultado de uma pesquisa
conduzida por Carla Silva Guimarães, durante seu mestrado – concluído em 2016,
no Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, sob orientação do professor
Renato Neves Feio. Carla, que também se graduou em Ciências Biológicas na UFV,
conta que, durante o mestrado, optou por “resolver problemas taxonômicos de
anfíbios da Serra do Brigadeiro que ainda não tinham uma identidade
específica”. O “sapinho dourado”, que era um deles, acabou se tornando o
protagonista da pesquisa pelas novidades que revelou.
Por meio da
observação externa dos espécimes fixados na coleção do MZUFV, os pesquisadores
perceberam uma musculatura interna muito escura no sapinho, jamais observada e
descrita em outras espécies. A partir dessa descoberta, Carla iniciou uma série
de expedições à Serra do Brigadeiro, para compreender melhor o comportamento e
o ciclo de vida do animal. Cada descoberta aumentava a curiosidade e a certeza
de que se tratava de uma nova espécie, com várias peculiaridades, que iam além
do tecido escuro. Elas passavam também por hábitos, como o de ficar escondido
nas camadas de folhas no solo, enterrado em raízes subterrâneas, e ser diurno -
diferentemente da maioria dos anfíbios que costuma ser mais ativa à noite.
O novo
Brachycephalus é a sexta descoberta feita na Serra do Brigadeiro por
pesquisadores orientados por Renato Feio e se soma às mais de 50 espécies que
já catalogaram ali - um número alto, segundo o professor, para apenas uma
região. Embora o trabalho realizado por ele e seus estudantes seja basicamente
o da busca por novas espécies de anfíbios e répteis nas matas - o que a ciência
chama de Método de Procura Ativa - e sua descrição, uma descoberta dessa
natureza pode abrir importantes perspectivas para outras áreas, como a
farmacologia, em função das toxinas que o sapo tem na pele.
Sobre a
homenagem ao Pink Floyd, Carla considera que os pesquisadores conseguiram combinar
a descoberta da nova espécie com algo que não fosse apenas ideológico, uma vez
que a espécie tem mesmo um lado negro. Em sua avaliação, o nome é muito
importante para divulgar o local de pesquisa e o grupo de pesquisadores. O seu
principal objetivo agora é divulgar e promover o Museu de Zoologia e o
Departamento de Biologia Animal da UFV para que mais pessoas trabalhem em prol
dessa ciência que tanto gostam.
Vale destacar que a pesquisa contou com recursos do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
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Fonte: Universidade Federal de Viçosa - UFV/Divulgação
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