Muito se tem
falado sobre a 21ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima (COP21) que tem início na próxima semana em Paris, na qual
deverá ser assinado o Acordo de Paris, documento que substituirá o Protocolo de
Kyoto, que termina sua vigência em 2020. Mas por que os ânimos estão tão
aflorados? Por que nunca se viu tanta movimentação com relação a um acordo
climático? A resposta é simples: porque o que antes eram apenas previsões
negativas nas quais uns acreditavam e outros não, agora é realidade. E as
pessoas estão sofrendo.
Dessa forma,
é preciso garantir que esse novo acordo entre mais de 190 países estipule uma
redução de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEEs), mantendo o aumento da
temperatura média global abaixo de 2ºC até 2100. Essa referência é apontada por
especialistas como um limite ‘aceitável’ e, se ultrapassarmos, as consequências
serão mais extremas.
“Não é
difícil imaginar esse cenário visto que as mudanças climáticas já estão sendo
sentidas em diversas partes do mundo, com secas e ondas de calor severas, chuvas
fortíssimas e duradouras, furacões e outros fenômenos climáticos extremos”,
afirma André Ferretti, gerente de estratégias de conservação da Fundação Grupo
Boticário de Proteção à Natureza, uma das instituições que fazem parte do
Observatório do Clima – rede de ONGs e movimentos sociais que atuam na agenda
climática brasileira.
Nesse
contexto, até mesmo representantes de países que historicamente não se
comprometiam com metas de redução de Gases de Efeito Estufa – como Estados
Unidos e China, estão agindo mais efetivamente, anunciando seus objetivos para
os próximos anos.
As
Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas, ou INDCs na sigla em
inglês, são as propostas de redução de emissão de GEEs de cada país para o
período de 2020 a 2030. “A grande dificuldade é equacionar e dividir a conta da
redução necessária, levando em consideração tanto as metas propostas, quanto o
papel que cada nação tem nas emissões mundiais acumuladas desde o início da
revolução industrial. Por exemplo, os Estados Unidos e a China, maiores
emissores do mundo precisam reduzir mais do que outros que proporcionalmente
emitem menos GEEs. É uma conta difícil e precisará de muita conversa e
flexibilidade dos países envolvidos”, explica Ferretti.
O futuro é agora
Com as
mudanças climáticas em curso impactando na vida de milhões de pessoas ao redor
do mundo, aumenta a pressão da sociedade civil para que o novo acordo atenda às
expectativas e necessidades das comunidades mais sensíveis. Com esse nível de
urgência maior, pela primeira vez a dinâmica da COP21 será diferente de todas
as outras.
Antes, na
primeira semana de negociações, os diplomatas eram os responsáveis pelas
discussões, sendo que os ministros e chefes de estado participavam da segunda
semana para as tomadas de decisões. Agora, esses chefes de estado participarão
da semana inicial, com o objetivo de acelerar as negociações. “Não sabemos
ainda se todo esse esforço será suficiente, mas já mostra uma busca por
resultados efetivos”, ressalta o especialista.
Além disso,
as metas dos 146 países que enviaram suas pretensões de redução até dia 1º de
outubro (prazo máximo para o envio), representam 86% das emissões de carbonodo
mundo, realidade que nunca tinha acontecido em nenhuma outra COP.
E onde o Brasil se encaixa?
Segundo
André Ferretti, a proposta de redução do Brasil – 37% até 2025 e 43% até 2030 – é forte com elementos importantes,
como o fato de indicar redução absoluta com base no ano de 2005. “Isso faz toda
a diferença, pois a base de cálculo é um período específico e não uma redução
baseada em estimativas de emissão”, explica. Além disso, o governo afirmou que
o trabalho de redução de GEEs será focado em todos os setores emissores e não
apenas no desmatamento.

Para o
gerente da Fundação Grupo Boticário é urgente que o país deixe de depender
tanto do pré-sal e evolua em energia eólica, solar e, principalmente biomassa.
“O Brasil deveria investir muito mais em tecnologias como o etanol de segunda
geração. Nesse caso não existe nem a competição com a produção de açúcar e
outros produtos provenientes da cana, pois a energia é gerada a partir do
bagaço da cana, um subproduto da produção do açúcar”, comenta.
Ele destaca
ainda que o Brasil tem grande frota de automóveis com condições de usar o
biocombustível (flex), estrutura de postos de combustível e produção de etanol.
“Precisamos de interesse político para voltarmos à nossa posição de
protagonistas”, explica André Ferretti.
Fonte: Fundação Grupo Boticário
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