A região do
MATOPIBA engloba o centro sul do Maranhão, todo o Estado do Tocantins, sudoeste
do Piauí e oeste da Bahia, sendo considerada a última fronteira agropecuária do
Brasil com quase 73 milhões de hectares. Este mega projeto prevê a transformação dessa região em um grande polo
agropecuário, trazendo desenvolvimento e geração de renda para a população
diretamente afetada. A pergunta que fica é: será mesmo que vale a pena todo
esse desenvolvimento? E esse tal desenvolvimento será para quem?
Nas últimas
semanas, vimos um grande desastre ambiental ocasionado pelo estouro da barragem
da Samarco/Vale em Mariana. Além das vidas humanas perdidas, a maior parte da
população brasileira está indignada com os vários impactos ambientais
ocasionados pela lama da barragem ao longo do canal do Rio Doce. Em termos
ambientais, e provavelmente sociais, os impactos provenientes da implantação do
MATOPIBA serão tão severos (mas “invisíveis e silenciosos”) quanto os ocasionados pela lama
da Samarco em Mariana. A única diferença é que no MATOPIBA a onda de lama de
mineração será substituída pela onda de verde, o verde das árvores caindo sob o poder
do correntão.
No Tocantins este grande projeto será o divisor de águas entre a conservação e a
degradação ambiental. O Estado é o que detém os maiores índices de vegetação
nativa de cerrado, sendo o território tocantinense coberto com cerca de 55% de vegetação, distribuída em grandes remanescentes ainda em bom estado de conservação e que abrigam um rica biodiversidade.
Entretanto, com o desbravamento desta nova fronteira agrícola, estes
remanescentes de vegetação estão com os dias contados, não sendo difícil prever
o que se espera para o futuro, não tão distante, do Tocantins. Junto a esta
devastação anunciada (veja figura abaixo da região de Luís Eduardo Magalhães - BA, desmatada (em vermelho) entre 1990 e 2015), toda uma biodiversidade associada será extinta, muitas
antes mesmo de serem conhecidas pela ciência.
O discurso
de que o MATOPIBA trará desenvolvimento e renda para a população diretamente
afetada não me parece ser um bom argumento. Basta olharmos para o município tocantinense
de Campos Lindos, por exemplo, que desde 2005 é o maior produtor de soja do
Tocantins e detém um PIB per capita de mais de 25 mil reais, enquanto que o Índice
de Desenvolvimento Humano Municipal – IDH-M, é de 0,544, um dos piores do
Brasil e o segundo pior do Tocantins. De acordo com os dados do Atlas de
Desenvolvimento Humano no Brasil, a renda per capita de Campos Lindos é de 292,64
reais, demonstrando o contraste que existe entre os ganhos advindos da produção do município
e o que realmente a população ganha com a atividade.
Como comentei anteriormente, as perdas ambientais e sociais provenientes do desbravamento
desta última fronteira são imensuráveis, mas talvez não haja indignação
nacional como no caso da lama da Samarco em Mariana, uma vez que as perdas
provocadas pelo MATOPIBA ocorrerão de forma silenciosa. Assim como outros
empreendimentos, benefícios irão surgir, mas a que custo? Para quem? Será mesmo que
vale a pena devastarmos nossas riquezas naturais e perdermos espécies e pessoas
como ocorreu em outros Estados que passaram pelo mesmo processo?
Para mais detalhes sobre o MATOPIBA veja essa apresentação da EMBRAPA, onde é apresentado a delimitação, caracterização, desafios e oportunidades para o desenvolvimento do programa.
1 Comentários
Pra melhorar o IDH de Campos Lindos é fácil: conscientizar as populações de renda mais baixa a terem menos filhos através de planejamento familiar.
ResponderExcluirAgora, o agronegócio é uma necessidade indiscutível. Foi o único setor da economia brasileira que não entrou em recessão na pandemia. Qu é contra é no mínimo ingênuo.