Para
compreender como as espécies se originam nas ilhas, pesquisadores da Universidade
Federal do Espírito Santo, com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à
Natureza, desvendaram a biodiversidade dos ambientes recifais dos montes
submarinos e ilhas da Cadeia Vitória-Trindade, localizados na costa capixaba.
Esses montes são extremamente isolados e profundos. O estudo, publicado na Nature no dia 07 de setembro, foi realizado
exatamente 50 anos após a publicação da Teoria de Biogeografia de Ilhas -
modelo amplamente utilizado para compreender a distribuição e a riqueza de espécies
terrestres em ilha – e lança uma nova teoria que explica a origem e evolução da
vida marinha nesse ambiente.

Segundo os
pesquisadores, a Cadeia Vitória-Trindade representa um dos poucos ambientes
marinhos do mundo onde é possível estudar os processos de evolução nos oceanos.
“A distribuição linear dos montes e ilhas da Cadeia, e o isolamento, são as principais
características que propiciam esse tipo de estudo”, relata o professor doutor
Jean-Christophe Joyeux. Segundo o cientista, peixes e diferentes organismos
marinhos de águas rasas utilizam os montes submarinos como trampolins,
alcançando a Ilha da Trindade, o que explica a diversidade de peixes na Ilha. A
maioria das espécies que não conseguem se dispersar utilizando os montes são as
que vivem em ambientes rasos ao redor de Trindade. De acordo com o professor
doutor Raphael M. Macieira, da Universidade de Vila Velha, essas são as
espécies que ficam geneticamente isoladas e se tornam endêmicas da ilha, sendo
somente encontradas nesse local.
Desejo realizado
O
pesquisador João Luiz Gasparini, da Universidade Federal do Espírito Santo,
confessa que estudar a biodiversidade dos montes submarinos da Cadeia
Vitória-Trindade era um sonho antigo dos pesquisadores. Há mais de 20 anos
estudando a biodiversidade marinha de Trindade e da costa do Brasil, o
pesquisador sugere que as espécies com baixa capacidade de dispersão só puderam
chegar na ilha durante as Eras Glaciais, períodos em que o nível do mar era
mais baixo que o atual (até 120 metros), e que os atuais montes submarinos eram
ilhas. “A última Era do Gelo terminou há cerca de dez mil anos e isso explica a
origem recente dos peixes de Trindade, que só conseguiram chegar lá utilizando
os montes quando estes eram ilhas com ambientes rasos”, completa Hudson
Pinheiro.

Por isso,
cientistas, ambientalistas e pescadores estão trabalhando em conjunto para
mostrar ao governo a importância cultural, econômica e cientifica da região.
“Esperamos que a Cadeia Vitória - Trindade possa ser utilizada como fonte de
recursos naturais e de desenvolvimento cientifico não só nos dias de hoje, mas
também pelas muitas gerações futuras que merecem conhecer e usufruir dessa
maravilha natural que é o local”, conclui Hudson Pinheiro.
Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário – instituição
que apoiou financeiramente o estudo – reforça a importância de pesquisas como
essa que, além de gerar dados científicos apurados, contribui para embasar
mecanismos de conservação. “A Fundação Grupo Boticário incentiva os
pesquisadores a atuarem junto ao poder público, de forma que o conhecimento
gerado pelas iniciativas apoiadas contribua para a o aprimoramento de políticas
públicas voltadas à conservação da biodiversidade”, afirma Malu.
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