Julho é marcado, desde 2011, como o “mês sem plástico”. Muitas hashtags em diferentes países dominam as redes, impulsionando e estimulando atitudes que questionam os plásticos de uso único. O movimento, iniciado pelo Plastic Free July, chegou com força ao Brasil há dois anos. Julho de 2020, entretanto, será diferente.
É possível diminuir o uso de plásticos descartáveis durante uma pandemia?
Nos dias que
correm, espalham-se pelas redes sociais imagens de praias e mares repletos de
máscaras e luvas descartáveis – a maioria provavelmente usada para prevenir a
covid-19. Também já se tem notícias do aumento do consumo de plástico
descartável, principalmente de embalagens. Era de se esperar, já que o maior
produtor de matéria plástica é o setor de embalagens. O descarte delas responde
por mais da metade de todos os resíduos plásticos gerados globalmente – a maior
parte nunca é reciclada ou incinerada.
O aumento do
consumo de plástico é um problema que afeta o todo o planeta e traz novos
desafios para uma cadeia de reciclagem ainda muito vulnerável. No Brasil, a
questão ganha uma importante dimensão social: salvas raras exceções (como as
únicas duas centrais de reciclagem mecanizadas de São Paulo), quase todo lixo
reciclado passa pelas mãos de catadores.
Essa mudança no perfil do consumo doméstico e as medidas de isolamento social afetaram profundamente o ciclo da reciclagem. “O impacto do nosso trabalho na cadeia da reciclagem foi algo que nós não imaginávamos”, observa Roberto Rocha, presidente Associação Nacional de Catadores e Catadoras do Brasil (Ancat). “Com a parada do trabalho dos catadores, a cadeia parou.”
Enquanto algumas cooperativas fecharam pela insegurança sanitária, outras chegaram a acordos com as prefeituras, inclusive de remuneração para os trabalhadores durante o período de pandemia. Os autônomos, catadores em situação de rua, também diminuíram o ritmo. Algumas cooperativas continuaram trabalhando, cumprindo contratos com prefeituras que não quiseram conversa.
Agora, à medida que a reciclagem se mostra essencial e a demanda pelo serviço aumenta, a pandemia deixou os trabalhadores do setor muito vulneráveis. “O Cempre [Centro Empresarial para a Reciclagem] calcula que pelo menos 90% de todo o material reciclável passa pela mão destes trabalhadores, informais ou cooperados, em algum momento”, diz Roberto Rocha.
Como o manuseio do lixo para coleta e separação é inevitável, havia, no começo da pandemia, medo de contaminação através do vírus que sobrevive em superfícies, principalmente de resíduos plásticos. Com o tempo, a Ancat passou a entender melhor a lógica de transmissão. A associação aguarda dois estudos para saber como retomar as atividades nas cooperativas e orientar a categoria.
A situação da pandemia aumentou a quantidade de recicláveis em lixões e aterros, e governos e empresas tiveram que investir no aumento da coleta, pois os catadores estavam parados. “O papel destes trabalhadores [catadores] não é visto como tinha que ser”, diz Rocha. “Não é remunerado dentro dessa cadeia que ele alimenta. Esse trabalho é também um trabalho essencial.”
De acordo com o WWF, o país é o quarto maior gerador de lixo plástico no mundo, pelo menos antes da pandemia. Mas dados sobre o destino dos resíduos ainda são raros e esse vácuo de informações vai demorar para ser atualizado com a nova realidade de uso de descartáveis.
A dificuldade em gerir o lixo e ampliar a reciclagem mostra como estamos atrasados na resolução de problemas que já deveriam ter sido encarados, antes de uma emergência como a da pandemia. A incorporação formal dos trabalhadores de recicláveis, por exemplo, já foi prevista na lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada ainda em 2010, mas, até hoje, como a maioria dos termos da política, não saiu do papel.
Recentemente, o movimento Break Free From Plastic divulgou declaração de quase 120 pesquisadores, acadêmicos e médicos de 18 países, afirmando que materiais e objetos reutilizáveis podem ser utilizados com segurança, contando que haja higienização básica.
O manifesto deixa clara a importância do material plástico nos serviços de saúde e na proteção de trabalhadores essenciais. Porém, o movimento alega que há uma grande diferença entre o uso sanitário, como em equipamentos de proteção individual, e as embalagens comuns. Segundo os pesquisadores, a indústria do petróleo e do plástico tem, intencionalmente, levado consumidores a pensar que seus produtos só estarão livres do vírus se estiverem embalados por plástico descartável. Não é verdade: estudos apontam que, sim, é seguro reutilizar.
O que podemos fazer neste momento? Separar o material, um hábito que não se pode perder. Limpar vasilhas, garrafas e outros recicláveis antes de mandar para a coleta. Não descartar luvas e máscaras em dias de coleta seletiva e, se possível, separá-las em sacolas próprias ou no lixo do banheiro. Por último, é importante valorizar e contribuir com iniciativas que ajudem os trabalhadores de materiais recicláveis.
Fonte: National Geographic Brasil
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Mudança de perfil do lixo brasileiro
Relatório da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) mostra que a quantidade de resíduos recicláveis coletados por serviços de limpeza urbana aumentou 28% em maio de 2020, em relação ao mesmo período de 2019. O dado contrasta com uma queda de 9% na coleta de resíduos sólidos urbanos – juntando a coleta domiciliar e limpeza pública –, que vai direto para aterros sanitários. No entanto, o aumento na coleta não quer dizer aumento da reciclagem.Essa mudança no perfil do consumo doméstico e as medidas de isolamento social afetaram profundamente o ciclo da reciclagem. “O impacto do nosso trabalho na cadeia da reciclagem foi algo que nós não imaginávamos”, observa Roberto Rocha, presidente Associação Nacional de Catadores e Catadoras do Brasil (Ancat). “Com a parada do trabalho dos catadores, a cadeia parou.”
Enquanto algumas cooperativas fecharam pela insegurança sanitária, outras chegaram a acordos com as prefeituras, inclusive de remuneração para os trabalhadores durante o período de pandemia. Os autônomos, catadores em situação de rua, também diminuíram o ritmo. Algumas cooperativas continuaram trabalhando, cumprindo contratos com prefeituras que não quiseram conversa.
Agora, à medida que a reciclagem se mostra essencial e a demanda pelo serviço aumenta, a pandemia deixou os trabalhadores do setor muito vulneráveis. “O Cempre [Centro Empresarial para a Reciclagem] calcula que pelo menos 90% de todo o material reciclável passa pela mão destes trabalhadores, informais ou cooperados, em algum momento”, diz Roberto Rocha.
Como o manuseio do lixo para coleta e separação é inevitável, havia, no começo da pandemia, medo de contaminação através do vírus que sobrevive em superfícies, principalmente de resíduos plásticos. Com o tempo, a Ancat passou a entender melhor a lógica de transmissão. A associação aguarda dois estudos para saber como retomar as atividades nas cooperativas e orientar a categoria.
A situação da pandemia aumentou a quantidade de recicláveis em lixões e aterros, e governos e empresas tiveram que investir no aumento da coleta, pois os catadores estavam parados. “O papel destes trabalhadores [catadores] não é visto como tinha que ser”, diz Rocha. “Não é remunerado dentro dessa cadeia que ele alimenta. Esse trabalho é também um trabalho essencial.”
Volte duas casas
No momento em que politicas públicas de manejo de resíduos plásticos avançam em todo o mundo – com leis que restringem o uso de descartáveis como sacolas e canudinhos, por exemplo – a pandemia chegou para que voltássemos algumas casinhas neste jogo. No mundo e no Brasil.De acordo com o WWF, o país é o quarto maior gerador de lixo plástico no mundo, pelo menos antes da pandemia. Mas dados sobre o destino dos resíduos ainda são raros e esse vácuo de informações vai demorar para ser atualizado com a nova realidade de uso de descartáveis.
A dificuldade em gerir o lixo e ampliar a reciclagem mostra como estamos atrasados na resolução de problemas que já deveriam ter sido encarados, antes de uma emergência como a da pandemia. A incorporação formal dos trabalhadores de recicláveis, por exemplo, já foi prevista na lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada ainda em 2010, mas, até hoje, como a maioria dos termos da política, não saiu do papel.
Recentemente, o movimento Break Free From Plastic divulgou declaração de quase 120 pesquisadores, acadêmicos e médicos de 18 países, afirmando que materiais e objetos reutilizáveis podem ser utilizados com segurança, contando que haja higienização básica.
O manifesto deixa clara a importância do material plástico nos serviços de saúde e na proteção de trabalhadores essenciais. Porém, o movimento alega que há uma grande diferença entre o uso sanitário, como em equipamentos de proteção individual, e as embalagens comuns. Segundo os pesquisadores, a indústria do petróleo e do plástico tem, intencionalmente, levado consumidores a pensar que seus produtos só estarão livres do vírus se estiverem embalados por plástico descartável. Não é verdade: estudos apontam que, sim, é seguro reutilizar.
O que podemos fazer neste momento? Separar o material, um hábito que não se pode perder. Limpar vasilhas, garrafas e outros recicláveis antes de mandar para a coleta. Não descartar luvas e máscaras em dias de coleta seletiva e, se possível, separá-las em sacolas próprias ou no lixo do banheiro. Por último, é importante valorizar e contribuir com iniciativas que ajudem os trabalhadores de materiais recicláveis.
Fonte: National Geographic Brasil
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