Um recente trabalho de dissertação de mestrado, do biólogo Renato Soares Moreira sobre a diversidade de aves na Área de Proteção Ambiental - APA do Lago de Palmas, identificou a presença de 14 espécies de aves ameaçadas de extinção no local. Esta unidade de conservação, por ser de uso sustentável, vem desde os anos 2000 passando por profundas transformações ambientais, tendo grande parte de suas áreas naturais convertidas para uso agropecuário e urbanização.

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Dentre as aves ameaçadas de extinção da APA do Lago de Palmas estão espécies como o pica-pau-da-taboca (Celeus obrieni), o gavião tauató-pintado (Accipiter poliogaster), o cancão (Ibycter americanos), o papagaio-galego (Alipiopsitta xanthops), o papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), a maria-corruíra (Euscarthumus rufomarginatus), o suiriri-da-chapada (Suiriri affinis), a campainha-azul (Porphyrospiza caerulescens), a cigarra-do-campo (Neothraupis fasciata), o mineirinho (Charitospiza eucosma) e o urubu-rei (Sarcoramphus papa).

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Pelo planejamento de uso e ocupação desta unidade de conservação, proposto pelo órgão gestor, a manutenção dos ambientes naturais existentes na APA está seriamente comprometido. O zoneamento prevê somente a preservação de pequenos fragmentos, com pouca ou nenhuma conexão entre os remanescentes florestais.

“Praticamente todo o território da APA é destinado à expansão urbana e/ou zona de desenvolvimento econômico, que inclui as atividades agropecuárias. Dificilmente essa unidade alcançará os objetivos de conservação previstos pelo Sistema Nacional de Unidade de Conservação – SNUC, sendo inevitável a extinção local da maioria das espécies de aves e outros grupos de animais registrados para a APA”, conta Renato.

Em termos de extinção local, ao que parece, esta já fez a sua primeira vítima na região. Desde o enchimento do Lago da UHE Lajeado, o jacu-de-barriga-vermelha (Penelope ochrogaster) não é mais visto na região. Sua ausência pode estar associada à perda e a fragmentação de habitat ocasionada pela formação do lago. Nos dias de hoje, a má gestão da APA do lago só tem a contribuir para que inúmeras outras espécies tenham o mesmo destino do jacu-de-barriga-vermelha.

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Sobre o autor

Dianes G. Marcelino é engenheiro ambiental e mestre em ecologia de ecótonos pela Universidade Federal do Tocantins. Tem experiência em licenciamento ambiental, geoprocessamento, ecologia, recuperação de áreas degradadas e gestão de resíduos sólidos.