O
muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides), também conhecido como mono-carvoeiro,
e seu primo do norte (Brachyteles hypoxanthus) são os maiores primatas das
Américas e estão criticamente ameaçados de extinção. Para proteger a espécie do
Sul, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza apoia um projeto do
Instituto Lactec na região do Vale do Ribeira, no Paraná, cujos resultados
preliminares foram apresentados ao governo do estado numa reunião para
planejamento de ações visando diminuir a vulnerabilidade da espécie.
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O muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides). Foto: Ricardo Martins. |
No encontro,
realizado na última sexta-feira (11), o secretário estadual do Meio Ambiente e
Recursos Hídricos (Sema), Ricardo Soavinski, afirmou que é possível, dentre
outras ações, viabilizar a criação de uma ou mais unidades de conservação na
região do estudo, que contempla cerca de 5.000 hectares e abriga uma população
de apenas 32 indivíduos de Muriquis.
Para
Soavinski, existem alternativas que permitem a proteção da espécie sem impedir
que as áreas sejam utilizadas economicamente como, por exemplo, a criação de
Reservas Particulares do Patrimônio Natural e Refúgio de Vida Silvestre. “Ainda
precisa de avaliação mais aprofundada, mas essas são categorias que preservam
as áreas de matas nativas já usadas por esses animais sem a dependência de
desapropriações de todas as áreas, evitando impactos econômicos negativos”,
disse. Essas categorias também permitem a utilização das áreas para a prática
de turismo ordenado, pesquisa e atividades de educação ambiental.
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Muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) , primo do Muriqui-do-sul. Foto: Anderson Ferreira. |
Segundo o
coordenador de Ciência e Informação da Fundação Grupo Boticário, Emerson
Oliveira, durante a reunião foi criado um grupo de trabalho que irá elaborar um
plano estratégico visando elaborar uma proposta que alie a conservação da
espécie evitando prejuízos à comunidade local. Esse grupo, que contará com a
participação de técnicos do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Instituto
Lactec, Secretaria de Meio Ambiente do Estado e da Fundação Grupo Boticário, já
irá se reunir novamente nos próximos dias para elaboração de um plano de
trabalho.
“A possibilidade
da efetivação concreta de ações para proteção do Muriqui fortalece nosso
trabalho de articulação que busca promover um diálogo entre governo e
pesquisadores, buscando impactos positivos para a conservação de nossos
ecossistemas naturais”, destaca Oliveira. O projeto apoiado pela Fundação Grupo
Boticário do Instituto Lactec, desde 2014, pretende ampliar o conhecimento
sobre o muriqui-do-sul, com dados sobre alimentação, estimativa populacional,
bem como colocar em prática ações previstas no Plano de Ação Nacional (PAN)
para conservação dos muriquis. O PAN dos muriquis é um documento federal que
indica ações prioritárias a para conservação das duas espécies de muriquis
existentes. A criação de áreas protegidas no Paraná é uma das ações indicadas.
A Fundação Grupo Boticário já apoiou 11 iniciativas com muriquis, destas, seis
para a espécie do sul. Além do Lactec, outras instituições como a Sociedade de
Pesquisa em Vida Silvestre e Educação Ambiental (SPVS), Fundação Brasileira
para a Conservação da Natureza, Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUC/PR) e Instituto de Pesquisas Cananéia (IPEC) tiveram seus projetos
apoiados.
Benefícios para a comunidade
O
mono-carvoeiro tem papel fundamental na regeneração e manutenção das florestas,
pois são importantes dispersores de sementes de espécies como canela, figueira,
ingá e diversos tipos de palmeiras. “Eles se alimentam das frutas dessas
espécies e espalham as sementes, por meio de suas fezes como também através dos
seus deslocamentos pelas árvores”, explica o pesquisador Robson Hack,
responsável pelo estudo com a população do primata registrada em Castro (PR).
Ele comenta
que, dessa forma, o mono contribui para que os serviços ambientais prestados
pela floresta – como produção de água, alimento e fertilização do solo – sejam
mantidos com qualidade. Além disso, o pesquisador destaca que atrair a atenção
e investimentos para a região é um bom negócio. “Os proprietários do Vale do
Ribeira podem se beneficiar com o pagamento por serviços ambientais (PSA) e com
iniciativas de turismo e pesquisa que beneficiem toda a comunidade”, destaca.
O PSA
consiste em premiar financeiramente proprietários particulares por conservarem
suas áreas naturais e protegerem mananciais, nascentes e a biodiversidade. Emerson
Oliveira lembra ainda que ao criar uma unidade de conservação, a região irá se
beneficiar de incentivos oriundos do ICMS Ecológico. Esse mecanismo possibilita
aos municípios que possuem UCs terem acesso a um repasse maior pelo Estado por
meio desse imposto. É um critério diferenciado para valorizar as áreas naturais
brasileiras. O Paraná foi o primeiro estado a instituir o ICMS Ecológico, em
1989.
Sobre os Muriquis
No Brasil, existem duas espécies desse primata. O muriqui-do-sul ocorre
no Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro e é considerado como ‘em perigo’ em nível
nacional e mundial. Já o muriqui-do-norte, que também se encontra criticamente
ameaçado de extinção, tem distribuição no Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia.
Fonte: Fundação Grupo Boticário
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