Cartão postal da
Região Sul, a Floresta com Araucárias caminha a passos largos para a sua
extinção. Esse ecossistema associado à Mata Atlântica chegou a abranger 200 mil
km2, área equivalente ao tamanho do Paraná (veja infográfico). Hoje, sua
cobertura original está restrita a menos de 3%. Apesar de quase extinto, dados
de 2003 do Ministério do Meio Ambiente (MMA) indicavam que somente cerca de
0,2% da área original do ecossistema
está protegido em Unidades de Conservação (UC) naquela época.
Para garantir a proteção de alguns dos
principais remanescentes da Floresta com Araucárias, o MMA criou em 2003 o
Grupo de Trabalho (GT) Araucárias Sul. O objetivo era discutir amplamente a
conservação do ecossistema, bem como apontar as áreas prioritárias para criação
de unidades de conservação nas regiões com os melhores remanescentes.
Alguns resultados importantes foram conquistados, entre 2005 e 2006 com a criação de quatro UCs no Paraná: Parque Nacional (Parna) dos Campos Gerais, Reserva Biológica (Rebio) das Perobas, Rebio das Araucárias e Refúgio de Vida Silvestre (Revis) dos Campos de Palmas; e duas em Santa Catarina: Parna das Araucárias e Estação Ecológica (Esec) Mata Preta.
Alguns resultados importantes foram conquistados, entre 2005 e 2006 com a criação de quatro UCs no Paraná: Parque Nacional (Parna) dos Campos Gerais, Reserva Biológica (Rebio) das Perobas, Rebio das Araucárias e Refúgio de Vida Silvestre (Revis) dos Campos de Palmas; e duas em Santa Catarina: Parna das Araucárias e Estação Ecológica (Esec) Mata Preta.
Após uma década, UCs ainda aguardam criação
Apesar dos avanços
conquistados com a criação dessas unidades, o GT deixou importantes lacunas na
estratégia de proteção da Floresta com Araucárias e que não foram resolvidas
até hoje, dez anos após os estudos iniciais. Por exemplo, não foi prevista a
criação de áreas protegidas no Rio Grande do Sul, apesar de 25% do estado já
ter sido ocupado pela Floresta com Araucárias e apenas uma pequena parcela
disso ter restado.
![]() |
Floresta de araucárias. Foto: Valério Pillar/Wikipédia. |
Segundo o coordenador
de Ciência e Informação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza,
Emerson Oliveira, não houve nenhum esclarecimento final sobre a não criação do
Revis do Rio Tibagi – localizado em uma região ainda intensamente explorada
para obtenção de areia para construção civil. “A implementação dessa UC é muito
importante para a formação efetiva de um corredor ecológico entre o Parna dos
Campos Gerais e a Rebio das Araucárias”, explica Emerson, autor do
recém-lançado livro ‘Processos de
criação de unidades de conservação na Floresta com Araucárias. Sem conexão
entre si, essas unidades de conservação ficam insularizadas, impedindo o
movimento da fauna e o consequente fluxo gênico entre elas. A distância também
prejudica a polinização da araucária (Araucaria angustifolia), que é feita pelo
vento. Veja detalhes abaixo em, ‘Necessidade de conservação’.
Rápida devastação
Registros históricos
indicam que a degradação da Floresta com Araucárias teve início a partir do
século XIX quando as terras sulinas começaram a ser ocupadas mais intensamente,
principalmente por imigrantes europeus atraídos pela promessa de uma vida
melhor.
No século XX, teve
início o ciclo da madeira que foi responsável pela derrubada de araucárias em
ritmo acelerado. Primeiro para atender a Europa no período da Segunda Guerra
Mundial, quando os países necessitavam de madeira para a indústria bélica. Em
seguida, na década de 1960, a árvore foi amplamente utilizada na construção de
Brasília. Atualmente, após mais de um século de exploração, a Floresta com Araucárias
é considerada praticamente extinta com menos de 3% de sua cobertura original e
entre 0,2% e 0,7% de florestas maduras. Estima-se que cerca cem milhões de
pinheiros tenham sido derrubadas na região, segundo dados do Ministério do Meio
Ambiente.
Necessidade de conservação
O professor doutor da
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC/PR) Rodrigo de Andrade Kersten
explica que além das pressões que sofrem, como extração ilegal da madeira, os
ecossistemas estão sujeitos ao chamado ‘déficit de extinção’. “Nesse fenômeno,
os indivíduos que sobraram estão tão longe entre si que pólens e flores têm
chance mínima de se encontrarem. Assim, embora esses indivíduos ainda estejam
vivos e a espécie não esteja oficialmente extinta, também possuem extrema dificuldade
de se reproduzir. Essa é a realidade da Floresta com Araucárias”, ressalta,
explicando que a Floresta possui na realidade um nível de extinção maior que o
indicado nos dados oficiais.
Malu Nunes, diretora
executiva da Fundação Grupo Boticário, instituição que promove e apoia ações de
conservação para o ecossistema, ressalta a importância da criação de mais
unidades de conservação e corredores ecológicos para reduzir o impacto dessa ‘insularização’.
“Os principais remanescentes da Floresta com Araucárias estão fragmentados e
desconectados, sendo fortemente sujeitos à pressão de áreas de seus entornos.
Por isso, é imprescindível implementar novas unidades de conservação para
proteger as áreas restantes e criar corredores ecológicos, visando a garantir a
interligação dos remanescentes, a
manutenção dos fluxos gênicos e a movimentação da fauna”.