A
perereca-de-capacete (Corythomantis
greeningi) é a primeira espécie de anfíbio conhecida por ser peçonhenta, ou seja, além de venenosa, a espécie possui estruturas capazes de inocular o
veneno na vítima. O novo registro é o segundo da espécie para o Tocantins, que
anteriormente somente era conhecida para a Estação Ecológica Serra Geral do
Tocantins (região do Jalapão, extremo leste do estado).
A espécie
foi encontrada na Cachoeira da Roncadeira, um importante atrativo turístico de
Palmas, localizada no distrito de Taquaruçu. “Era por volta de 9 horas da
noite quando encontramos o espécime sobre as folhas de uma palmeira, acima da Cachoeira
da Roncadeira”, explica Leandro Alves, biólogo e um dos autores da publicação.
Segundo os
autores, o registro da perereca-de-capacete no município de Palmas revela um
padrão de distribuição ainda desconhecido, uma vez que essa espécie era
conhecida por se distribuir amplamente dentro da Caatinga, e apenas
marginalmente no Cerrado, na zona de contato deste domínio com o domínio
Caatinga. O registro realizado pelos autores demonstra que a espécie, na
verdade, alcança áreas nucleares do domínio Cerrado. De fato, essa espécie foi
encontrada a mais de 400 Km dos limites do bioma Caatinga.
O artigo com a descoberta está publicado na revista científica Herpetology Notes, que, além de Leandro Alves, contou com a
participação de Mauro Celso Hoffmann e Diego Santana.
Sobre a espécie
A
perereca-de-capacete é um anfíbio de médio porte, podendo atingir até 8 cm de
comprimento. Tem como principal característica uma evidente ossificação
cefálica que lembra um capacete, de onde provém seu nome popular. Vivem sobre
folhas, bromélias, buracos de árvores e fendas de rochas no interior das matas,
reproduzindo-se em ambientes aquáticos com água parada (lagoa, lagos, etc.)
durante o período chuvoso. É uma espécie que além de venenosa é peçonhenta, ou seja, possui estruturas no formato de espinhas capazes de injetar as toxinas na vítima (Foto abaixo).
Segundo
publicação do site Sci-News, os cálculos da equipe que analisaram as toxinas da
espécie indicam que um grama da secreção tóxica da perereca-de-capacete é
suficiente para matar mais de 300.000 mil ratos ou cerca de 80 humanos.
“Felizmente é improvável que a espécie produza essa quantidade tão grande de
secreção. Apenas uma quantidade muito pequena é excretada pelas espinhas”,
explicou Dr. Carlos Jared, pesquisador do Instituto Butantan, para o site.
De acordo
com Leandro Alves, existem outras espécies de pererecas com estruturas na pele
semelhantes a espinhos, como por exemplo a espécie Scinax
constrictus (Foto abaixo), também encontrada na Cachoeira da Roncadeira. “Não me surpreenderia saber que outras espécies possuem os
mesmos mecanismos de inoculação de veneno”, comenta o pesquisador. De todo
modo, a possibilidade de ocorrer acidentes com pessoas é relativamente muito
baixa. O pesquisador afirma também já ter coletado a espécie em outras ocasiões e
nunca teve nenhum tipo de acidente.
Como bem sabemos, muitas substâncias produzidas por animais e plantas têm potencial farmacológico. “O fato é que conhecemos muito pouco da nossa
biota e estamos extinguindo muitas espécies antes mesmo de conhecê-las.
Proteger o ambiente no qual estamos inseridos é um dever moral da nossa
sociedade. Unindo isso ao fato de que podemos (e de fato isso ocorre) nos beneficiar de tal atitude, uma vez que
poderíamos descobrir substâncias capazes de curar inúmeras doenças, a proteção ambiental se torna uma necessidade com caráter de urgência”,
explica Leandro Alves.
Obrigado ao biólogo Leandro Alves pelas contribuições no texto.
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