A cidade de Bonito, no Mato Grosso do Sul, é mundialmente conhecida devido as suas belezas naturais que são atrativos para inúmeros turistas de várias partes do mundo. Entretanto, conforme apresentado no Fantástico, o turismo na região está sob ameaça. A expansão agrícola nas áreas de banhado (brejão) de um dos principais atrativos turísticos da região, o Rio da Prata, tem tornado as águas cristalinas do rio em águas turvas nos períodos chuvosos.
Lugares para visitar em Bonito, Fantástico, Rio da prata, Cidade de Bonito, Bonito, Mato Grosso do Sul, impacto ambiental, turismo, degradação, engenharia ambiental, biologia, natureza, meio ambiente, bodoquenaA princípio, a causa do problema são os drenos instalados pelos agricultores para secar a área do banhado para o plantio de soja. Cerca de 2 mil hectares da área de banhado do Rio da Prata já desapareceram, sendo instalados mais de 40 quilômetros de drenos para secar o local. A água que escoa por esses drenos acabam carreando sedimentos e lama para dentro do rio, provocando a turbidez em suas águas cristalinas, afastando os turistas da região.
Além de perdas com o turismo, essas intervenções ao longo do tempo provocarão alterações na estrutura da biodiversidade aquática dos atrativos turísticos de Bonito, tendo em vista que o problema pode se agravar caso medidas ambientais não sejam tomadas. Espécies aquáticas adaptadas as condições ambientais de águas cristalinas podem desaparecer com o aumento da turbidez das águas dos rios da região.
Além dos problemas ocasionados ao turismo da região e potencialmente sobre a biodiversidade aquática, a conversão dos banhados em áreas para agricultura acaba interferindo no sistema hidrológico da região. Segundo especialistas, os banhados além de regular a vazão dos rios da região, funcionam como um grande filtro, filtrando sedimentos, agrotóxicos e partículas diversas que poderiam alcançar esses atrativos turísticos.
A grande questão a ser debatida é que, se o local era uma área de banhado (brejão), a drenagem e abertura dessas terras para o plantio de soja não deveriam ter ocorridos, uma vez que esses locais são considerados áreas de preservação permanente - APP, sendo proibida sua conversão e utilização. Segundo o secretário estadual de meio ambiente o problema é que os drenos executados não forma licenciados e fechá-los não resolveria o problema da qualidade das águas, devendo os produtores promover sua recuperação através de um programa de recuperação ambiental.
O Ministério Público e a Promotoria de Justiça de Bonito move uma ação justamente para verificar se os banhados da região se enquadrariam como uma área de preservação permanente. Caso se confirme, o problema não seria a falta de licenciamento ambiental dos drenos, mas de crime ambiental por instalar a atividade agrícola em uma área protegida por lei. Nesse caso, restaria saber se as atividades passaram por processo de licenciamento, e o órgão ambiental não se atentou a isto, ou os produtores operam sem o devido licenciamento, cabendo o órgão ambiental fiscalizar e autuar os infratores para que reparem os danos ambientais causados.
De todo modo, quem sai perdendo é a coletividade. Uma atividade rentável e ecologicamente sustentável vai caminhando para deixar de existir em Bonito, uma vez que é certo que os processos de degradação se intensificarão na medida em que nada for feito e os plantios avançarem sobre o ambiente nativo da região.
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Sobre o autor

Dianes G. Marcelino é consultor, engenheiro ambiental e mestre em ecologia de ecótonos pela Universidade Federal do Tocantins. Tem experiência em licenciamento ambiental, geoprocessamento, ecologia, recuperação de áreas degradadas e gestão de resíduos sólidos.