Os cães são excelentes animais de estimação, mas fora do seu “ambiente natural” trazem grandes impactos sobre a fauna selvagem, podendo levar inúmeras espécies de animais à extinção. Esta constatação acaba de ser evidenciada em um recente trabalho científico publicado na revista Biological Conservation e contou com a participação de pesquisadores de institutos e universidades da Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, Índia e África do Sul.

cães domésticos, cães, cachorros, animais selvagens, extinção, cachorros estão levando espécies a extinção, dogs, domestic dogs, impactos, impacts, threatened, wildlife, animals, canis familiaris, extinct, extinctions, natureza, ataque de cachorros a animais selvagens, conservaçãoDe acordo com os autores, a presença de cães domésticos em ambientes naturais já contribuiu para a extinção de 11 espécies de vertebrados, sendo ainda reconhecido seu potencial de ameaça para pelo menos outras 188 espécies globalmente ameaçadas de extinção em várias regiões continentais. Os grupos mais afetados englobam os mamíferos, com 96 espécies, as aves, com 78 e répteis com 22 espécies conhecidas. Os anfíbios estão representados por 3 espécies.

Segundo os pesquisadores, as regiões com mais espécies de animais silvestres impactadas pela ação de cães são o sudeste da Ásia, Caribe e América Central, América do Sul, podendo cada uma destas regiões concentrar até 30 espécies impactadas negativamente pela ação de cães, Ásia (exceto sudeste), regiões da Polinésia e Austrália até 25 espécies de animais de alguma forma sofrerem interferência canina.

Das 188 espécies identificadas, 30 estão classificadas como criticamente ameaçadas de extinção (com 2 possivelmente extinta), 71 em perigo de extinção e 87 com o status de vulnerável. O impacto mais frequente dos cães sobre a fauna está relacionado à predação, representando cerca de 78,9% das espécies, seguido por distúrbios (7,0%), transmissão de doenças (4,5%), competição (1,5%) e hibridização (1,0%).

Os autores sugerem que os dados apresentados são conservadores, podendo o número de espécies afetadas por cães ser muito maior do que os apresentados, uma vez que muitos estudos não incluem ou relatam os efeitos da ação de cães sobre a fauna silvestre.

De fato, nas redes sociais brasileiras, diferentes especialistas da área conservacionista concordam com a conclusão dos autores, relatando, por exemplo, a ação de cães sobre espécies brasileiras ameaçadas de extinção, como a predação de ovos do pato-mergulhão (Mergus Octocetaceus) na região de Patrocínio/MG, e mutum-do-sudeste (Crax blumenbachii), na Reserva Ecológica de Guapiaçu/RJ, e que provavelmente não está na literatura científica.

Os autores enfatizam a necessidade de implantação de ações visando minimizar o problema, uma vez que a população de cães domésticos irá expandir numericamente e geograficamente nas próximas décadas, colocando em risco a sobrevivência de muitas outras espécies de animais silvestres em várias partes do mundo.

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Sobre o autor

Dianes G. Marcelino é engenheiro ambiental e mestre em ecologia de ecótonos pela Universidade Federal do Tocantins. Tem experiência em licenciamento ambiental, geoprocessamento, ecologia, recuperação de áreas degradadas e gestão de resíduos sólidos.